A indústria ferroviária não vive seu melhor momento. 2019 ficou muito abaixo das expectativas do setor e as previsões para 2020 não irão se confirmar. No entanto, o setor demonstra otimismo com as perspectivas de médio e longo prazos, com vários novos projetos sendo encaminhados e a renovação das concessões. O ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, estimou no início do ano que o setor irá receber investimento de R$ 30 bilhões nos próximos cinco ou seis anos.
“Eu prevejo um grande futuro. A indústria está esperando as demandas das expansões”, afirma Vicente Abate, presidente da Abifer – Associação Brasileira da Indústria Ferroviária. De acordo com Abate, atualmente, o ferroviário responde por 15% da matriz de transporte de carga no País e que a intenção do governo é a de elevar esse índice para 30% nos próximos 10 anos.
Hoje, lembra Abate, o Brasil conta com 30 mil km de ferrovias, mas apenas cerca de 1/3 desse total é bastante utilizado, por empresas como Vale, Rumo e MRS Logística. “Temos um terço subutilizado e mais outro terço sem utilização”, detalha.
Projetos em andamento – De acordo com o presidente da Abifer, existem hoje oito projetos em andamento: cinco deles originários de renovações de outorga antecipadas e três projetos de concessões/leilões. A renovação antecipada da Malha Paulista, administrada pela Rumo, foi assinada em 27 de maio deste ano, após um processo de negociação que se arrastou por mais de quatro anos. O contrato original da concessão, que venceria em 2028, foi renovado por mais 30 anos. Os investimentos previstos na Malha Paulista, pela Rumo, chegam a R$ 6 bilhões.
“A Malha Paulista tem um valor muito elevado de investimento. A sua troncal, que vai de Santa Fé do Sul (SP) até o Porto de Santos, deve contornar alguns municípios. Haverá revitalização da linha não só para melhoria de trechos, mas também para aumentar a capacidade de carga por eixo. Ela tem uma duplicação de Sumaré a Itirapina e tudo isso exige a aquisição de materiais rodantes como vagões e locomotivas”, explica Abate.
Outra renovação antecipada é a da Vale, de cerca de R$ 21 bilhões, já está aprovada pelo TCU – Tribunal de Contas da União. O valor é referente aos contratos de concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e da Estrada de Ferro Carajás (EFC). Os contratos seriam encerrados em 2027, mas foram estendidos por mais três décadas e devem ser assinados em novembro deste ano.
A MRS Logística também está na fila para a renovação antecipada. O acordo está em fase de avaliação final na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e deve seguir para o TCU entre o final deste ano e início do próximo. Já a VLI Multimodal provavelmente encaminhará a renovação da FCA – Ferrovia Centro-Atlântica (malha Centro-Leste, 7220 km de extensão, passando por mais de 300 municípios, em sete estados: Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Sergipe, Goiás, Bahia e São Paulo) no início de 2021.
LEILÕES – Em relação aos leilões, em março de 2019 a Rumo ganhou a disputa pela Ferrovia Norte-Sul, que possui 1537 km e vai desde Porto Nacional (TO) até Estrela D’Oeste (SP). O contrato foi assinado em junho do ano passado e prevê a operação integral da malha. Da quilometragem total, 855 km já estavam em operação, porém ainda não estavam finalizados (sem terminais e com demanda por material rodante). A conclusão de todas as obras desta ferrovia deve acontecer entre abril e junho de 2021. A concessionária vai operar o trecho por 30 anos e é responsável pela manutenção e conservação de toda a infraestrutura durante o período.
O trecho converge com a Malha Paulista, também administrada pela Rumo. “Há uma previsão futura de extensão da malha Norte, que termina hoje em Rondonópolis em um megaterminal, para o Centro-Norte do estado (mais 600 km), área de grande produção de soja, milho e algodão, na região de Lucas do Rio Verde”, comenta Abate.
Em sua avaliação, existe no Brasil bastante integração entre os transportes ferroviário, rodoviário (que corresponde a 65% da matriz de transporte de carga nacional) e hidroviário. Para o presidente da Abifer, o transporte rodoviário tende a diminuir, mas não em tamanho, já que a ideia é transportar mercadorias de maneira mais eficiente, das fazendas para um terminal ferroviário. “Não faz mais sentido os produtos saírem de caminhão, do Norte, e andarem 2 mil km de caminhão para chegar ao Porto de Santos. O frete fica inviável, há muita perda de material no percurso, entre 5 e 10% da carga. Isso porque o caminhão não tem a mesma hermeticidade de um vagão”, afirma. Abate destaca que os projetos mencionados vão somar 3700 km com uma mesma bitola (larga), de 1,6 m, o que torna a ferrovia ininterrupta.
Ainda existem outros dois projetos de leilões: FIOL – Ferrovia de Integração Oeste-Leste e Ferrogrão. A primeira está no TCU há 10 meses e o certame está previsto para acontecer no primeiro semestre de 2021. A ferrovia, conta com três trechos, mas só o primeiro – de 527 km – está sendo avaliado pelo TCU. Localizada na Bahia, a ferrovia liga Caetité a Ilhéus. A Ferrogrão, com seus 933 km, vai ligar o Centro-Oeste (Sinop, no Mato Grosso) a Miritituba (PA) e, existe também a FICO – Ferrovia de Integração Centro-Oeste. O Governo Federal divulgou que essas linhas devem receber investimentos da ordem de R$ 14 bilhões nos próximos anos.
Perspectivas – Desde o ano passado o setor enfrenta baixa produção de vagões e locomotivas, com índice de ociosidade em torno de 90%. Na opinião de Abate, esse é um cenário muito dramático. “Se compararmos com os últimos 10 anos, a ociosidade cai para 70%, que ainda é um número dramático”, observa.
“Em 2015 fabricamos 4700 vagões, mas essa quantidade veio decrescendo nos últimos anos. As concessionárias passaram a investir cada vez menos. No ano passado fizemos apenas 1006 vagões”, conta o executivo. A produção de 2019 significou o retrocesso de uma década, já que em 2009, quando eclodiu a crise econômica mundial, foram manufaturados 1022 vagões. Nos 10 últimos anos, a média anual de produção é de 3400 vagões.
Para 2020, a Abifer havia projetado a fabricação de 2000 vagões, mas o ano deve fechar em 1500, “o que não é de tudo ruim”, conforme disse Abate. Atualmente, algumas fábricas estão paradas e a expectativa é de que voltem a operar em novembro para impulsionar o início do próximo ano. “Eu não tenho números para o ano que vem, ainda é cedo para isso. Mas será um ano bom, devemos ultrapassar os 2000 vagões projetados para esse ano”, diz.
Fonte: Usinagem Brasil
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