Em um país muito dependente das rodovias — mais de 60% da matriz de transporte é sobre pneus —, a
transportadora ferroviária MRS começa a obter ganhos em razão da greve dos caminhoneiros. Apesar de as ferrovias
dependerem do caminhão para acessar os terminais intermodais, já houve migração de cargas para os trilhos em
determinados negócios.
No transporte de contêineres, carga que tem mais flexibilidade para migrar instantaneamente do caminhão para o trem
por ser uma unidade isolada, a MRS está com uma taxa de ocupação média dos trens de 100%. Antes da greve, esse
indicador variava entre 45% e 60%. A empresa tem condições de ampliar a capacidade e absorver a demanda adicional.
Isso ocorre em todas as nove rotas da empresa que fazem esse tipo de transporte: Santos-Jundiaí, Santos-Campinas, entre as margens do porto de Santos, Santos-Suzano, Santos-Vale do Paraíba, Santos-São Paulo, Rio-Belo Horizonte, Rio-São Paulo, e Rio-Vale do Paraíba Fluminense. Cada rota opera com uma média de dois trens por dia.
“A carga geral vem mais rapidamente. Houve pelo menos mais cinco clientes de grande porte, sendo que dois já estavam em negociação antes da greve”, diz o gerente-geral de negócios de carga geral da MRS Guilherme Alvisi.
Desde a greve, a concessionária controlada por Vale, CSN, Usiminas e Gerdau contabilizou aumento de três vezes no
número de visitas em seu endereço eletrônico.
Com clientes novos, a empresa Contrail, que opera um terminal ferroviário intermodal em Jundiaí para a MRS, deve
dobrar para 1.344 Teus (contêineres de 20 pés) a operação semanal de transporte entre Jundiaí e Santos até o fim da
próxima semana.
“Antes da greve a gente fazia quatro trens por semana. Na semana em que estourou a greve a MRS conseguiu disponibilizar seis trens e na próxima semana serão oito. Durante a greve tivemos um aumento de 50% no movimento”, afirma o presidente da Contrail, Rodrigo Paixão.
“Não queremos surfar na onda da greve, somos parceiros do caminhão. O que houve foi uma descoberta da ferrovia num
país extremamente voltado para o rodoviário”, explica Alvisi. Segundo ele, houve dois movimentos. Um reativo, em que a falta continuada do caminhão desencadeou uma procura adicional pela ferrovia, e outro pró-ativo, de buscar a ferrovia como alternativa perene.
No primeiro exemplo, há casos de clientes que, pela natureza da urgência do negócio, são típicos do transporte rodoviário mas não tiveram outra alternativa a não ser recorrer ao trem. Por exemplo, uma empresa que faz a gestão de cemitérios e precisou transportar defuntos.
Outro caso foi uma empresa de lixo hospitalar, que precisa de trânsito rápido mas recorreu aos trilhos.
O Valor procurou a VLI e a Rumo, duas outras transportadoras ferroviárias. Por e-mail, a VLI informou que está “em
contato com seus clientes avaliando alternativas de maior utilização do seu sistema de logística integrada”. Já a Rumo disse, também por e-mail, que não tinha dados para informar sobre o assunto.
Fonte: Valor Econômico
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