Associações veem piora em abastecimento de aço

Apesar do alívio parcial no quadro geral de acesso a insumos, mostrado ontem em reportagem do Valor, ramos industriais que fazem uso intensivo de aço, como segmentos de máquinas e construção, dizem que a situação não melhorou no início deste ano. Pelo contrário, associações de classe afirmam que os preços não só continuam elevados, como o horizonte é de mais reajustes, o que pressiona margens, afeta a produção e ameaça contratos.

“Está um caos. Nunca esteve tão ruim. Nem no ano passado, entre agosto e dezembro. Estamos no pior momento de desabastecimento de aço”, afirma José Velloso, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Segundo a entidade, de janeiro de 2020 a fevereiro deste ano, os preços do aço subiram, em média, 60% a 65% nas usinas, com alta de até 80% em alguns produtos. Na distribuição, o aumento varia de 80% a até mais de 100%. “Se falar que é por causa do preço do minério de ferro, do carvão, não justifica, porque o aumento é muito maior”, diz Velloso.

Diante da pressão, fábricas estão tendo de fazer repasses aos preços, segundo Velloso. E, embora o maior problema seja nos custos, há registros de entraves também no fluxo de produção. “Não é generalizado, mas tenho notícias de associados com linha de produção parando ou dando férias por causa da falta de matéria-prima”, diz o executivo da Abimaq.

Na construção, a preocupação é com imóveis vendidos e obras contratadas a preços fechados que não previam aumentos dessa magnitude, o que deixa um risco “imenso” de empresas não darem conta e “esqueletos” de obras ficarem pelo caminho, diz José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC).

“Encareço para quem eu vou vender, perco mercado, pessoas perdem acesso. Encareço o que já está contratado e não tenho mais como reajustar. O que a empresa vai fazer? Quebrar? Rescindir contrato? É muito problemático, principalmente em obras públicas.”

Segundo a Anfir, a associação da indústria de implementos rodoviários, empresas já têm recebido informação de reajustes na ordem de 45% a 50% para junho e julho. “Nosso mercado tem a característica de vender pelo preço de hoje e não reajustar até a entrega. Como a indústria vai conviver com esse aumento? Provavelmente, vai ter de colocar dinheiro em cima, porque só a margem não vai dar conta de cobrir a diferença”, diz Norberto Fabris, presidente da Anfir.

Em nota, o Instituto Aço Brasil afirma que o ramo chegou a operar com 45% da capacidade instalada em 2020. Hoje, está em 67,3%, ultrapassando janeiro passado. Segundo a entidade, ajustes ainda são feitos, mas a indústria “está plenamente capacitada a abastecer o mercado interno”.

Fonte: Valor Econômico / Por Anaïs Fernandes (https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/02/18/associacoes-veem-piora-em-abastecimento-de-aco.ghtml)

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